Num dia de primavera de 1958, o então presidente Juscelino Kubitschek desceu de helicóptero num descampado,
onde, poucos dias depois, seria construido um dos maiores conjuntos habitacionais da época da construção de Brasília. Ao descer
do aparelho, o presidente cumprimentou operários, servidores e muitas pessoas que logo iriam ocupar as novas moradias - residências
térreas, unifamiliares, destinadas ao funcionalismo público que se transferia do Rio de Janeiro para a nova Capital da República.
Na ocasião, JK descerrou uma placa comemorativa, em bronze, anunciando a obra, colocada sobre uma parede em concreto de 1.20
m x 3,50 m.
A parede, uma especie de monumento totêmico, permaneceu no local ao longo das últimas décadas,
testemunhando o compromisso assumido de realização das casas que ocorreria poucos dias depois no chamado ritmo de Brasília.
À sua volta cresceram muitas árvores ao longo das últimas décadas ficando até difícil hoje imaginar como o presidente
pôde descer de helicóptero naquele espaço ocupado pelas copas vegetais, que cobrem toda área, deixando entrar algumas poucas frestas
de sol entre as folhagens.
Pois bem, com o tempo e o crescimento vertigionoso da cidade, também chegaram as mazelas próprias
do subdesenvolvimento e da miséria que ganha corpo nos grandes conglomerados urbanos do país. Os pichadores acostumaram-se
ao longo dos últimos anos a frequentar o espaço levando ao monumento os rabiscos próprios de uma educação frágil e de uma
alfabetização insuficiente.
Incomodado com o problema, o novo administrador da quadra que abriga o monumento, a 711 sul, resolveu
melhorar o visual da área e revitalizar o monumento. Convocou para tarefa um morador ilustre da quadra, o artista plástico
Darlan Rosa, uma das grandes unanimidades das artes visuais de Brasília. Meu amigo do tempo que cheguei a Brasília, Darlan
solicitou minha parceria neste propósito e pudemos fazer uma intervenção coletiva, trazendo para a proposta o grupo Ciranda
dos Mosaicos - uma turma de mosaicistas de Brasília que troca trabalhos uma vez ao mês. Cada um de seus membros confecciona
uma peça de 25 x 25 cm e o conjunjo de peças é doado a um membro sorteado a cada mês. Pois em outubro de 2004 o
sorteado fui eu. Como o sorteado designa o motivo para elaboração da peça, escolhi "Brasília" como tema. E os 28 integrantes
do grupo Ciranda dos Mosaicos capricharam na realização do trabalho que, reunido, resultou no conjunto que colocamos de um
lado do monumento, em sua parte traseira.
Na parte da frente, sobre a placa de bronze inaugurada por JK, o artista Darlan Rosa concebeu um
desenho para mosaico, que eu tive a grata satisfação de executar, em tesselas de mármore e granito. São peças que lembram
a forma do plano piloto em tamanhos diferenciados voando soltas no espaço. Darlan batizou o trabalho com o título "O plano
é piloto e o piloto é o homem".
Depois de tudo pronto, houve cerimônia oficial, com descerramento de faixa e discurso, feito por
uma senhora quase nonagenária, moradora da 711 sul, que presenciou a chegada de Juscelino ao local em 1958, e serviu-lhe cafezinho
na ocasião.
Um must!
H. Gougon, nov. 2004
Cerimônia festiva de revitalização: com faixa |

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Obra pra ninguém botar defeito |
Gougon e Darlan aguardando inauguração |

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O plano piloto vaga pelo espaço na concepção de Darlan |
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