Tudo começou com a construção de dois tótens pela paz realizados pelos Loucos de Pedra por ocasião do início da guerra
contra o povo do Iraque. A realização da obra já foi descrita em outra página deste site: o grupo colocou dois tótens no ponto
de ônibus da quadra 707/708, na Avenida W-3 sul, junto à praça 21 de Abril, no coração de Brasília.
As duas peças permaneceram muito tempo no local, sem qualquer arranhão, até que no mês de dezembro de 2003, ou seja,
9 meses depois de sua instalação, um pichador noturno passou pelo local e lascou um "X" sobre a palavra PAZ e, em seguida,
rabiscou: "A paz 'tá' morta".
Preparei-me rapidamente para apagar a pichação, mas ao chegar ao local com uma lata de produto químico próprio para isso,
me detive em meditação. Logo me dei conta de que não se tratava de uma pichação do tipo vulgar, coisa que geralmente
é feita com letra ininteligível, própria de analfabeto ou, mais possívelmente, de quem está passando recado de uma gangue
para outra.
Não. A pichação apenas assinalava uma intervenção conceitual com a linguagem própria do pichador. A paz tá morta! Me
dei conta de que o pichador estava certo e desisti de limpar.
Enfim, os dois tótens continuaram no local, sem qualquer tentativa de limpeza.
Até que em julho último, numa madrugada fria, de sexta para sábado, por volta das 4 horas, um ou mais pichadores decidiram
vandalizar o tótem que continha a palavra PAZ rabiscada com um "X". Munidos de pé de cabra, provavelmente drogados, quebraram
a obra integralmente. E ainda mais: nas mediações, arrancaram um aparelho de telefone público do orelhão e também uma lixeira
pública que o serviço de Limpeza Urbana havia colocado na área dois ou três dias antes. E ainda picharam o outro totem e todo
o abrigo de espera do ônibus.
Uma tristeza só!
Muito irritado com o problema, tomei as dores do grupo Loucos de Pedra e resolvi por minha conta e risco trabalhar depresssa
para impedir que esses vândalos ficassem "vitoriosos", donos do pedaço. Em menos de dez dia, trabalhando em tempo integral,
consegui fazer outro totem, desta vez com poesia do poeta Fernando Mendes Vianna, fazendo uma reflexão sobre a pedra, como
compreendê-la e como abrí-la ao conhecimento.
Enfim, acho que foi a resposta mais inteligente ao vandalismo noturno. Espero que a poesia permaneça no local e que aquiete
os pichadores criminosos, gente
covarde cuja ação ocorre, invariavelmente, nas brumas da madrugada.
Gougon, setembro de 2004