Certa vez em Brasília, o arquiteto Oscar Niemeyer, conversando com o artista plástico Omar Franco,
perguntou: "O que fazem vocês aqui que não enchem esta cidade com obras de arte?"
Desconsertado com a questão inesperada, Omar arriscou alguns comentários sobre a rigidez devida
ao tombamento de Brasília pela Unesco e a conversa ficou suspensa, ainda hoje mal resolvida.
Este é um assunto recorrente na Capital da República sempre que se pensa nos grandes espaços urbanos
e quanto perde a cidade por deixar de ocupá-los com obras de arte. Em março de 2003, o Correio Braziliense publicou artigo
de uma cronista local, sempre bem sintonizada com a cidade, Conceição de Freitas, lembrando o entusiasmo que o crítico Mário
Pedrosa mantinha pela nova capital construída no Planalto Central. Dele, recolheu uma frase sobre Brasília, que, na sua opinião,
significava, "em síntese, uma cidade que se constrói".
Acho que esse sentimento explica, de alguma maneira, a ação desencadeada na ocasião, junto à
Praça 21 de Abril, às margens da Avenida W-3 sul, principal artéria da Capital, onde um grupo de mosaicistas locais - novamente
"Os Loucos de Pedra" - ergueu e fixou dois totens, lado a lado, junto ao ponto de ônibus, com imagens referentes
à paz e à harmonia entre os povos.
A obra resultou de uma oficina promovida no Espaço Cultural da 508 sul, integrando diversos
companheiros em torno de um projeto, que foi assinado mais uma vez com o sugestivo apelido do grupo. Cada um dos participantes
trouxe suas tesselas em vidro, cerâmica, azulejos, mármores, granitos, pedras duras, seixos rolados, e outros artefatos, integrando-os
todos de forma harmônica e de beleza indescritível.
Para tanto, foram utilizadas duas armações de ferro pré-existentes no local, erguidas há cerca de
dez anos, e que serviam, outrora, para indicar o trajeto dos ônibus pela cidade. Com o tempo, o painel deixou de ser atualizado
e passou a servir para colocação de papéis adesivos com finalidade comercial, fazendo uma sujeira danada nas peças.
Desta vez, os "loucos de pedra" presentearam a cidade com as duas obras, embelezando a estrutura
e deixando preservada a face contrária, de resto livre para o caso de o poder público vir a resgatar a função original
das armações de ferro, limpando-as e inserindo as indicações de trajetos dos ônibus.